Apocalipse é o livro bíblico que traz a revelação de Jesus Cristo acerca dos tempos do fim. É o último livro da Bíblia e foi escrito pelo apóstolo João, provavelmente entre os anos 93 e 96 d.C, enquanto esteve exilado na ilha de Patmos.
A palavra ‘Apocalipse’ tem origem no grego (apocalypsis– ‘apo‘: tirado, ‘kalumna‘: véu/ ‘kaliptós‘: coberto) e significa revelação ou descoberta. Trata-se de um livro profético, do gênero apocalíptico e encerra os livros inspirados do Novo Testamento.
A revelação dos acontecimentos futuros foi dada por Deus aos Seus servos:
Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos o que em breve há de acontecer. Ele enviou o seu anjo para torná-la conhecida ao seu servo João, que dá testemunho de tudo o que viu, isto é, a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo.
Apocalipse 1:1-2
Como entender o Apocalipse?
Em primeiro lugar, precisamos ter humildade para aceitar que trata-se de um livro de difícil interpretação. Provavelmente, teremos dificuldades de identificar símbolos ou figuras estranhas que aparecem no livro do Apocalipse. Para compreender melhor o Apocalipse, precisamos lê-lo à luz dos outros livros da Bíblia. Além disso é preciso considerar o tipo de texto e o contexto no qual foi escrito para entendermos melhor o seu propósito.
Em segundo, precisamos entender que o Apocalipse retrata o desfecho final da revelação de Deus ao homem. Não é sobre o que nós queremos que seja, mas sobre o que Deus permitiu que soubéssemos. Nele é descrito como tudo culminará e sobre a soberania de Deus no controle da história, encerrando o quadro bíblico geral iniciado em Gênesis.
Em geral, importa saber que:
- O Apocalipse, tal como toda a Bíblia, é centralizado em Jesus Cristo.
- O propósito do livro é mostrar a soberania de Cristo e trazer uma resposta de esperança e consolo ao povo de Deus.
- Há um alerta real aos incrédulos sobre o julgamento e a condenação eterna (para quem não crê e nem se arrepende).
- O livro traz aos leitores (em todos os tempos) uma última advertência ao arrependimento e à perseverança em Cristo.
- As profecias estão se cumprindo e o tempo do fim se aproxima.
Contextualização e estrutura do livro do Apocalipse
Para quem foi escrito?
Os destinatários imediatos do livro do Apocalipse foram as sete igrejas da Ásia Menor (atual Turquia). Os cristãos enfrentavam uma perseguição hostil naquela época por parte dos dos pagãos, dos judeus e do imperador Domiciano . O próprio apóstolo João havia sido banido para Patmos, ilha que servia como exílio penal, devido à intensa perseguição religiosa. O objetivo do autor era levar encorajamento aos crentes que eram diariamente confrontados na sua fé.
Nos primeiros capítulos (2 e 3) podemos ver um pouco dos problemas que as igrejas enfrentavam localmente. Mas, de modo geral, a Igreja de Cristo era atribulada por todos os lados. Assim, Deus transmite à João uma mensagem de esperança e alento: o prenúncio da vitória final contra todo o mal.
Características da mensagem
Trata-se de uma mensagem de esperança e confiança para os que são fiéis a Cristo. Contudo, o Apocalipse é considerado um livro de difícil compreensão, por conter determinados símbolos, figuras e códigos, tão comuns ao gênero apocalíptico. João, inspirado por Deus, usa esse tipo de texto para descrever a revelação maravilhosa que Jesus lhe concedeu.
Certamente, não era a intenção descrever com exatidão a ordem cronológica dos acontecimentos futuros. Mas de descrever as visões e o testemunho de Cristo revelados para a Igreja.
Através desse registro, os crentes desde o primeiro século, tem sido confortados com a expectativa da vitória e da vida eterna com Deus. As dores dos filhos serão recompensadas na intervenção final e definitiva de Cristo contra os Seus inimigos, no Seu reino eterno. Cristo voltará em poder e glória para buscar os Seus remidos, cumprir seus juízos e estabelecer o Seu Reino eternamente.
A soberania de Deus é realçada aqui no anúncio prévio da derrota do Maligno, do pecado e do sofrimento. Não se trata de um embate, cujo final é desconhecido. A revelação de Jesus antecipa-nos que o Cordeiro de Deus é vitorioso eternamente e dará fim a todas as forças espirituais da maldade.
Além desses pontos, o Apocalipse é um livro que comunica esperança para o povo de Deus. Ele mostra-nos que aconteça o que acontecer, os filhos de Deus estarão seguros no Senhor e terão, pela graça de Jesus Cristo, a vida eterna.
Estrutura
O último livro da Bíblia pode ser dividido em três partes:
- Introdução e saudação do apóstolo João; prenúncio da visão que teve de Jesus Cristo glorificado (Capítulo 1)
- Sete cartas às sete igrejas na Ásia Menor. Essas cartas exortavam acerca da condição das igrejas nos tempos de João, mas também prefiguram a condição da Igreja nos dias de hoje (Capítulos 2 a 3 ).
- Visões acerca do fim (várias imagens sobre a grande tribulação, do Reino triunfal de Cristo, da vingança do Cordeiro, a destruição da besta e do falso profeta, o Juízo final, o novo céu e nova terra). Seis visões de João que esboçam uma espécie de paralelismo. Abrangem eventos que vão sendo revelados, ao longo da história até que tudo seja consumado no grande final. Muitos desses eventos, possuem interpretações distintas (Capítulos 4 a 22:5). Conclusão (22:6-21).
É provável que as profecias descritas no Apocalipse contenham duas possibilidades interpretativas: um elemento próximo e um distante. No primeiro caso, referindo-se a eventos da época de João, e o último elemento retratando eventos futuros.
Tipo e gênero literário
O Apocalipse é um livro Profético e o seu gênero é o Apocalíptico. E isso deve estar claro para o leitor antes de iniciar seu estudo do livro. Certamente o Apocalipse não deve ser lido como um texto de gênero jornalístico, dissertativo ou romance, por exemplo. O gênero apocalíptico floresceu no período entre o Antigo e Novo Testamentos e possui características particulares, que são:
- o uso de linguagem figurada
- riqueza de símbolos e imagens
- relato de visões e sonhos
- uso simbólico de números, cores e outros elementos enigmáticos
- discurso futurístico impactante
Este gênero literário teve seu auge entre 200 a.C e 200 d. C. No contexto judaico, o gênero apocalíptico se expandiu durante o exílio do povo de Israel na Babilônia. No período inter testamentário, diversos escritos apocalípticos (apócrifos) foram escritos com o intuito de encorajar e anunciar o fim do sofrimento na chegada de um novo tempo em que o Messias viria num reino glorioso de paz.
Na Bíblia há outros livros que apresentam algum traço de estilo apocalíptico, tais como: Daniel, Ezequiel, Isaías e Zacarias. Mas sem a predominância encontrada em Apocalipse. Muitos recursos linguísticos emblemáticos foram utilizados para transcrever a visão gloriosa e transcendente que João teve. Tendo em conta o estilo literário, devemos estar atentos para não tornar literal todos os símbolos e imagens que aparecem no texto.
Cumprimento das profecias apocalípticas
As profecias dadas na revelação de Deus sobre os finais dos tempos já começaram a se cumprir mas ainda não terminaram. No entendimentos de muitos, as profecias vão se cumprindo ao longo dos tempos até a volta de Jesus. Nesse entendimento, os símbolos tiveram referências históricas para os contemporâneos de João, também têm nos nossos dias e terão no futuro.
Um bom exemplo disso é a figura da ‘besta’. Nos tempos de João, a ‘besta’ poderia ser facilmente associada ao imperador Nero (ou Domiciano); no século XX poderia ser considerado o nazista Hitler. Atualmente, a ‘besta’ poderia ser associada aos sistemas políticos corrompidos, ou outras personalidades e, no futuro, poderá haver referência mais específica.
Apesar das diferentes interpretações sobre o cumprimento das profecias apocalípticas, fato é que esse livro é atemporal. Fala à Igreja de Cristo em todos os tempos. As cartas às sete igrejas da Ásia, por exemplo, advertiram às igrejas daquele tempo mas continuam exortando aos crentes das igrejas espalhadas pelo mundo todo, pelos anos seguintes, até hoje.
Encoberto ou revelado?
Notamos que o livro do Apocalipse ao mesmo tempo que revela, também parece encobrir certos detalhes do leitor. Nem todos os pormenores da nossa curiosidade serão completamente sanados. Mas não é por isso que não devemos estudá-lo proveitosamente. O seu caráter misterioso deve aguçar o nosso desejo de conhecer mais a Deus e a nossa meta de estar eternamente com Ele.
Mesmo para estudiosos e comentaristas da Bíblia, alguns trechos do Apocalipse são considerados velados ou misteriosos. O próprio autor inspirado foi advertido a encobrir certos detalhes, do que viu na visão (Apocalipse 10:3-4). Parte do que João ouviu foi “selado” e não foi escrito.
As referências da revelação que João recebeu do Senhor Jesus podem não ser consensuais no meio cristão, hoje. Em muitos momentos, ele transcreve símbolos que eram facilmente reconhecidos por seus primeiros leitores mas que precisam ser contextualizados por leitores dos nossos tempos.
Algumas passagens são bastante emblemáticas, como o capítulo 20, por exemplo. Alguns pormenores causam tremendas discussões devido às diferentes interpretações e leituras que podem ser feitas da mesma.
As principais interpretações de Apocalipse
Existe muitas interpretações do livro de Apocalipse. Mas este livro deve sempre ser lido à luz dos demais livros bíblicos. Na interpretação da Bíblia, passagens mais claras sempre iluminam passagens obscuras.
Há quatro maneiras diferentes para interpretar o Apocalipse: Preterismo, Futurismo, Historicismo e Idealismo. Estas são as principais escolas escatológicas que esboçam diferentes posicionamentos acerca dos eventos finais, descritos no livro do Apocalipse.
Há aqueles que defendem:
- que as profecias já aconteceram no passado (preteristas).
- que tudo irá se cumprir no futuro (futuristas).
- que as profecias do Apocalipse vão acontecendo ao longo da história, até culminar na vinda do Senhor (historicistas).
- que o Apocalipse fala de princípios gerais, constantes na luta do bem contra o mal, que se cumprirão espiritualmente (idealistas).
Existem muitas discussões acerca das possíveis interpretações do Apocalipse. As escolhas ou métodos de interpretação foram desenvolvidos tendo como base diferentes estudos e análises no decorrer da história do cristianismo. Essas maneiras de compreender o texto não devem ser tomadas como dogmáticas (absolutas ou arbitrárias) para o leitor da Bíblia. Mas podem servir de aliados para o melhor entendimento do livro.
1. Preterista
Linha de interpretação que acredita que as profecias do Apocalipse já tiveram o seu cumprimento no primeiro século, com a destruição de Jerusalém (70 d.C) e a queda do Império Romano.
2. Futurista
Essa linha entende que as profecias do livro do Apocalipse terão o seu cumprimento no final dos tempos. Portanto, a maioria dos eventos do livro (bem como outras passagens bíblicas escatológicas) ainda vai se cumprir futuramente.
3. Historicista
É a linha interpretativa que esboça, em grande parte, a posição evangélica (era a posição de Lutero e outros protestantes). Entende que o Apocalipse descreve simbolicamente as diferentes fases da história da humanidade, bem como as épocas da Igreja, desde o Novo Testamento até o fim dos tempos. Essa linha de interpretação, acompanhou predominantemente o protestantismo até o século XIX, quando o futurismo ganhou espaço no meio pentecostal.
4. Idealista ou Eclética
Compreende as profecias apocalípticas espiritualmente e não num sentido literal. Não afirma assertivamente sobre detalhes das visões misteriosas, nem considera que eventos narrados no Apocalipse acontecerão histórica e literalmente. Entende e assimila as verdades representadas através dos embates entre o bem e o mal.
Ainda existem diferentes escolas interpretativas relacionadas ao Milênio e à Grande Tribulação:
Interpretações do Milênio: capítulo 20
O capítulo 20, principalmente os versículos de 1 a 10, gera bastante controvérsia interpretativa. Nesse trecho, Apocalipse 20:1-10, faz-se menção do Milênio – período de tempo (literal ou não, consoante a interpretação), em que Cristo reina e Satanás será preso, impossibilitado de enganar as nações. Acerca dessa tese, existem três posicionamentos:
Amilenismo
Negação à teoria do Milênio. Afirma que não há bases suficientes para esperarmos o governo visível de Cristo apenas num milênio (espaço limitado de tempo de mil anos). Considera que o Reino de Deus se dará de forma definitiva e gloriosa depois de findar essa era, na volta do Senhor. Era a posição mais aceita entre os primeiros cristãos e também mais tarde nos círculos reformados.
Pré-milenismo
Esperam um milênio no futuro e acreditam que a segunda vinda de Jesus será anterior ao milênio. Atualmente essa crença está relacionada ao Dispensacionalismo.
Pós-milenismo
Acreditam que a segunda vinda de Cristo será depois do milênio. Assim, esperam que a sociedade irá melhorar gradativamente (desde a 1ª vinda de Cristo) e que o milênio irá acontecer no seu ápice. Depois disso, se daria a volta do Senhor.
Interpretações da Grande Tribulação
A grande tribulação é um período de tempo (indeterminado) que antecederá a segunda vinda de Cristo. Esse período terrível da história é mencionado em Apocalipse e noutros livros da Bíblia (Mateus 24:21). Esse tempo de tragédias será marcado por:
- apostasia da fé
- esfriamento do amor
- aparecimento de falsos profetas e falsos cristos
- perseguição aos cristãos
- imposição de grande sofrimento aos que são leais a Cristo.
Quanto a este tempo também existem diferentes interpretações:
Pré-tribulacionismo
Acreditam que acontecerá o arrebatamento secreto da igreja e que a segunda vinda de Cristo irá acontecer antes da grande tribulação. Defendem que a volta de Jesus será em duas etapas: primeiro no arrebatamento da igreja e depois dos sete anos da Grande Tribulação, para destruir o império do Anticristo.
Mid-tribulacionismo ou Meso-tribulacionismo
Também esperam que acontecerá um arrebatamento secreto, e que a segunda vinda se dará no meio da grande tribulação. Neste período, com supostos sete anos de duração, o Anticristo tomará o poder, depois da saída dos crentes da terra.
Pós-Tribulacionismo
Os defensores dessa tese acreditam que o arrebatamento acontecerá no fim da grande tribulação, e que a igreja não será retirada da terra durante esse tempo. Acreditam que os crentes passarão por tribulações, ao londo dos tempos, cada vez mais intensas até a Segunda vinda de Jesus.
Dentro dessas escolas de interpretação há posições mais extremadas ou moderadas. No entanto, entendemos que acima de preferências ou inferências humanas, a Bíblia interpreta-se a Si mesma. Por isso a importância da leitura e estudo completos da Bíblia sagrada para se compreender melhor o Apocalipse.
Conclusão
O livro do Apocalipse é uma profecia enviada por Deus ao Seu povo. É também um livro pastoral que encoraja, exorta e adverte a todos acerca dos últimos acontecimentos neste mundo. Apesar das perseguições e tribulações que a Igreja tem enfrentado, há vitória certa, consolo e glória eterna ao lado de Cristo. Para os descrentes há um convite para o arrependimento e fé, mas também um alerta para o risco da eternidade longe de Deus.
O Apocalipse é um convite para se conhecer mais a Cristo, testemunhar Dele ao mundo e estar preparado para a Sua vinda. Temos na Bíblia Sagrada, a preciosa revelação do Pai e tudo que precisamos saber sobre os tempos finais.
Em linhas gerais, o livro do Apocalipse assegura-nos que:
- Deus é soberano sobre o universo e tem um plano para a Sua criação
- Jesus tem controle sobre toda a história da humanidade
- podemos ter certeza da vitória de Cristo e do Seu povo contra o mal
- Deus conhece o sofrimento dos Seus Filhos e promete recompensá-los
- O juízo de Deus se manifestará na história – os opressores do povo de Deus serão julgados
- o mal (pecado, o diabo e os demônios) será destruído e punido eternamente
- o novo céu e a nova terra serão a nova realidade para os filhos de Deus
Nessa segurança gloriosa, podemos nos desprender desse mundo, tendo clareza sobre tudo que Deus revelou e ser abençoados pela esperança futura com Cristo. Para isso, devemos nos dedicar à leitura contextualizada e sóbria do Apocalipse, atentando-nos para a interpretação que a própria Bíblia dá de si mesma. O Apocalipse aliado a outras referências bíblicas nos esclarecem acerca dos tempos do fim.