Você pergunta: Estou estudando Mateus 24, buscando entender todas as falas de Jesus sobre o final dos tempos e me deparei com Mateus 24:28, onde Jesus diz que “onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres”; vi que algumas traduções traduzem águias ao invés de abutres. Pode me ajudar a ter um entendimento completo desse verso?
Caro leitor, os ditos de Jesus em Mateus 24 devem ser estudados com muito detalhamento, pois em alguns momentos Jesus parece estar falando da destruição de Jerusalém, que ocorreu em 70 d.C e em outros está falando de sinais do final dos tempos. O trecho de Mateus 24:15 a 28, na opinião de muitos teólogos, se refere a queda de Jerusalém mencionada. Dentro desse contexto, vejamos agora os possíveis significados do verso 28.
(1) Primeiro vamos analisar a questão do animal citado por Jesus: Por que algumas traduções trazem “águias” e outras “abutres”? Pelo contexto podemos entender que o texto não estaria falando da águia, pois a águia não é um animal que voa sobre cadáveres. Assim, o termo abutres parece ser mais correto, claro, no caso de uma interpretação um pouco mais literal do texto (que veremos daqui a pouco). Já o termo águia geralmente é usado em algumas traduções devido a interpretação mais figurada do texto, que estaria falando de uma águia, que era símbolo do império romano, ostentado nos seus estandartes. É por isso que algumas traduções diferem na citação do animal.
(2) O primeiro significado possível de “onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres” está ligado ao contexto e é interpretado por alguns ligado ao dia do juízo final. Observe que antes dessa frase Jesus diz: “Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto!, não saiais. Ou: Ei-lo no interior da casa!, não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do Homem” (Mateus 24:26-27). Dentro desse contexto, o verso objeto de nossa análise significaria algo assim: da mesma forma que quando alguém morre, quando vira cadáver, atrai abutres, animais carniceiros, dessa mesma forma, quando o mundo estiver extremamente apodrecido pelo mal, o Senhor Jesus virá executar Seu justo juízo sobre os ímpios apodrecidos. Nesse sentido, essa vinda de Jesus seria visível a todos (V.27), portanto, Seus discípulos não deveriam dar ouvidos a falsos cristos que pudessem aparecer em alguns lugares isolados e escondidos.
(3) Existe ainda uma segunda interpretação, um pouco diferente. Os que pensam que os versos de 15 a 18 são aplicados exclusivamente a queda de Jerusalém, que já mencionamos, aplicam “onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres” de uma maneira muito mais figurada. Jesus estaria falando do judaísmo de sua época, que estava se transformando em cadáver apodrecido (por tê-lo rejeitado). As águias dos estandartes romanos viriam como juízo de Deus sobre esse cadáver. Nessa interpretação os abutres ou águias (nesse caso águias é uma tradução mais apropriada) representam os estandartes do império Romano que viriam sobre Jerusalém e o sobre o judaísmo de forma destrutiva. De fato isso ocorreu na queda de Jerusalém em 70 d.C. Mas isso ainda não seria o final, ainda não seria a vinda de Cristo, daí Ele alertar nos versos 26 e 27 para não acreditarem quando alguém dissesse que aquele tempo era o tempo da Sua segunda vinda.
(4) Qual é a interpretação correta? Difícil saber ao certo! No entanto, termino essa explicação dizendo aos meus leitores que os textos sobre final dos tempos (chamamos de escatologia na teologia) não são fáceis. Eles causam curiosidade em alguns e muita ansiedade em outros. Mas o grande fato que deve acalmar nossos corações é que Deus é justo, que Ele está conduzindo todas as coisas e que o fato de não entendermos 100% de tudo relacionado aos planos Dele não deve trazer ansiedade aos nossos corações, antes, devemos cuidar de viver do modo que agrada ao Senhor, fazendo Sua vontade. Isso é suficiente para que consigamos, com a ajuda Dele, passar por qualquer coisa que precisemos passar!