Você Pergunta: Estava lendo um relato do apóstolo Paulo na carta aos Coríntios e lá ele mencionou que tomou uma quarentena de açoites menos um. Eu gostaria de entender essa citação dele. Por que ao invés de falar trinta e nove açoites ele diz quarenta menos um? Tem alguma simbologia nessa citação?
Caro leitor, essa é uma citação interessante do apóstolo Paulo que vai nos ajudar a conhecer um pouco sobre as leis do Antigo Testamento e como eram as suas aplicações na prática.
(1) A primeira coisa importante a saber é que na Lei de Moisés temos diversas penalidades que eram aplicadas em pessoas que quebravam as leis. Uma dessa penalidades era a pena de açoites. Esses açoites eram a aplicação de um corretivo no infrator através de um chicote. A Lei de Moisés determinava como isso devia ser feito: “Se o culpado merecer açoites, o juiz o fará deitar-se e o fará açoitar, na sua presença, com o número de açoites segundo a sua culpa. Quarenta açoites lhe fará dar, não mais; para que, porventura, se lhe fizer dar mais do que estes, teu irmão não fique aviltado aos teus olhos” (Deuteronômio 25:2-3).
(2) Conforme observamos, a Lei trazia a possibilidade de alguém ser açoitado como pena, mas colocava um limite de, no máximo, quarenta açoites. Mais do que isso representava humilhar a pessoa de uma forma ruim e contrária ao objetivo que a lei desejava. Dessa forma, usar a penalidade de açoites era algo muito comum nas práticas judiciais do judaísmo. No entanto, essa pena era muitas vezes usada de forma injusta e arbitrária, como no caso em que Paulo e Silas foram açoitados (injustamente) por pregar o evangelho: “E, depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a segurança” (Atos 16:23).
(3) Em uma de suas cartas, o apóstolo Paulo lembra essas ocasiões em que apanhou por açoites por pregar o evangelho: “Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um” (2 Coríntios 11:24). Agora sim poderemos entender porque a citação “uma quarentena de açoites menos um”. Um judeus, principalmente as autoridades, gostavam de se gabar de que seguiam a Lei de Moisés à risca, então, quando alguém ia receber a pena de açoites, poderia ocorrer da pessoa que estava aplicando a penalidade de açoites se perder na contagem. Se isso ocorresse o penalizado receberia mais de quarenta açoites e isso seria descumprir a lei. Para evitar a possibilidade desse possível erro, a ordem era dar no condenado, ao invés dos quarenta açoites (o máximo possível), a quantia de trinta e nove, para deixar claro que ele não estava recebendo mais de quarenta açoites.
(4) Com essa ordem os juízes dos casos esperavam cumprir plenamente a Lei de Moisés, nunca deixando exceder quarenta açoites ao condenado (conforme mandava a lei). No entanto, a fala de Paulo sobre “uma quarentena de açoites menos um” também demonstra a hipocrisia do judaísmo daquela época, onde, buscando cumprir a Lei de Moisés à risca, descumpriam a vontade de Deus fazendo oposição ao Evangelho, perseguindo os servos de Deus e aplicando penalidades para crimes inventados. É um típico mau uso, ou melhor, manipulação da lei para fins corruptos.