Você Pergunta: Eu ouvi um pastor falar que não é correto entender os Salmos 116:15, que fala que a morte dos santos de Deus é preciosa para ele, como Deus gostando que seus servos morram. Minha dúvida é que não consigo ver essa interpretação nesse Salmo, pois ele diz mesmo que Deus vê como preciosa a morte daqueles que são Dele!
Caro leitor, esse pastor tem certa razão em suas colocações, porém, é preciso explicar essa questão de forma mais detalhada para que se compreenda o texto corretamente. O texto diz o seguinte:
“Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos” (Salmos 116:15).
Numa leitura rápida, as conclusões são igualmente rápidas, e pode-se concluir que quando um santo de Deus morre, Deus fica muito feliz, como se pensasse: “Oba, ele morreu, que precioso isso”!
Contudo, não é bem isso que o verso quer comunicar. Pode-se entender melhor isso analisando a palavra “preciosa”, traduzida assim na versão Almeida Revista e Atualizada.
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Essa palavra “preciosa” no original em hebraico é “yaqar”, que significa “valioso, estimado, importante, precioso, raro, esplêndido”, mas também pode ser usada no sentido de “custoso”, segundo o léxico hebraico de Strong.
Nesse caso, o contexto é que dará a aplicação mais correta dessa palavra. Nesse verso, o contexto não parece favorecer a ideia de que Deus acha importante e preciosa a morte de um de Seus servos, como se tivesse alegria por isso!
Estaria Deus dizendo que quando um servo Dele morre isso é algo de “grande valor” para Ele? Ou algo extremamente importante, melhor do que esse servo estar vivo?
O contexto mostra que o salmista foi livrado da morte (por Deus): “Pois tu me livraste da morte, os meus olhos, das lágrimas e os meus pés, de tropeçar” (Salmos 116:8).
Isso parece indicar que ver a morte nesse contexto como “algo precioso” não faz sentido. O salmista, no início de seu relato, ainda vê a morte como algo que estava querendo prendê-lo e, assim, algo do qual ele queria escapar e não como algo positivo diante de Deus:
“Laços de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; caí em tribulação e tristeza” (Salmos 116:3).
Também temos de lembrar que a morte do nosso corpo é uma consequência direta do pecado que age em nós. Logo, a morte, em nada, é preciosa nesse sentido, nem para nós nem para Deus.
A morte é a lembrança da ruptura que o pecado causou, da separação entre nós e Deus por causa do pecado! Ainda que possa ser vista em alguns casos como um encontro mais profundo com Deus ou a libertação das dores dessa vida, no geral a morte tem uma visão bem mais negativa!
Assim, parece fazer mais sentido que o verso seja melhor compreendido como dizendo que a morte dos servos de Deus não o deixa pulando de alegria, mas é pesarosa para Ele, justamente pelos motivos que fizeram a morte existir.
Porém, outras traduções desse mesmo texto não adotam a palavra “preciosa”. Vejamos algumas delas:
Nova Versão Transformadora:
“O Senhor se importa profundamente com a morte de seus fiéis” (Salmos 116:15).
Essa versão parece não concordar com a ideia de preciosidade, antes, procura mostrar que Deus está envolvido de forma profunda com a morte de Seus servos, com zelo por eles.
Na King James Atualizada temos:
“Custa muito ao SENHOR ver morrer seus fieis” (Salmos 116:15).
Nessa versão, temos exatamente e de forma muito clara essa ideia de que a morte dos servos de Deus não traz alegria a Ele. Aqui se traduz a ideia de “custosa” que expliquei no início.
Na Nova Versão Internacional:
“O Senhor vê com pesar a morte de seus fiéis” (Salmos 116:15).
Nessa versão também temos a ideia de “custo”, de algo que pesa no coração de Deus e não de alegria pela morte dos santos.
Essas são apenas algumas versões para refletirmos. O fato é que a palavra escolhida para dar sentido ao texto acaba mudando o significado dele.