A Bíblia nos mostra que a relação entre a Igreja e o Estado, a religião e o poder tem sido sempre complicada. Não existe nenhuma resposta clara na Bíblia sobre a separação entre a Igreja e o Estado mas devemos lembrar que onde há muito poder, há muita tentação para o pecado. Historicamente, a Igreja tem se corrompido pelo poder quando se tem unido com o Estado.
A política de separação entre a Igreja e o Estado se solidificou pela primeira vez na Constituição dos Estados Unidos da América. Essa política servia para proteger a liberdade religiosa das diferentes denominações cristãs.
Antes disso, nos países de tradição cristã, o Estado promovia um grupo cristão (como a Igreja Católica em Portugal, ou a Igreja Anglicana na Inglaterra) e perseguia todos os outros. Nos casos mais extremos, qualquer grupo cristão que não fosse o aprovado pelo governo era criminalizado e seus membros poderiam até sofrer pena de morte!
Além de pôr fim à repressão da diversidade cristã, a política de separação entre a Igreja e o Estado reduziu o poder dos grupos religiosos sobre o governo secular. Assim, denominações e líderes religiosos poderosos não podiam obrigar o governo a obedecer-lhes, sem processo democrático. Nessa separação, a Igreja pode ainda tentar influenciar a sociedade e a política com seus ideais mas não tem o direito de se impor como um ditador. Por exemplo, a Igreja Católica não pode obrigar o Estado a batizar todos os seus cidadãos à nascença e a Igreja Batista não pode obrigar o Estado a criminalizar o batismo de bebês.
Em países de maioria não cristã, a separação entre a religião e o Estado significa que cristãos podem se juntar para adorar a Deus e pregar o Evangelho sem sofrerem represálias do governo. Essa política protege minorias religiosas, que são mais vulneráveis a ataques.
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O Estado e a Igreja no Novo Testamento
No Novo Testamento a Igreja ainda estava no seu início e não tinha nenhum poder estatal. O Cristianismo era uma religião minoritária, perseguida pelo Estado romano, cuja religião oficial era o culto ao Imperador. Os primeiros cristãos sofreram pela falta de separação entre o poder político e a religião.
Quando os primeiros cristãos foram perseguidos pelas autoridades políticas e religiosas, eles não procuraram uma aliança com o governo como a solução para seus problemas. Eles escolheram obedecer a Deus, sem comprometer seus valores para agradar o Estado (Atos dos Apóstolos 4:18-20).
A Igreja primitiva nos dá um bom modelo sobre como devemos nos relacionar com o Estado. Devemos respeitar as autoridades e podemos nos envolver em política mas, quando a fé e o governo entram em conflito, nossa lealdade maior é com Deus (Atos dos Apóstolos 5:29). Com ou sem separação entre a Igreja e o Estado, haverá sempre momentos em que a Igreja terá de escolher entre obedecer a Deus e buscar poder político.
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Jesus e o Estado
Jesus mostrou que o Reino de Deus não depende do poder político. Muitos achavam que parte da missão de Jesus era se estabelecer como rei do Estado de Israel, trazendo independência para seu país. Mas Jesus explicou que seu Reino não é deste mundo (João 18:36). Ele nunca procurou poder político mas ele se estabeleceu como rei no coração de cada cristão.
Os defensores da separação entre a Igreja e o Estado se inspiraram nas palavras de Jesus: “dai a César o que é de César e dai a Deus o que é de Deus” (Marcos 12:16-17). Eles viram nisso uma prova que a política e as coisas de Deus nem sempre se misturam.
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O Estado e a religião no Antigo Testamento
Em Israel, a religião judaica influenciava toda a estrutura do poder. Ao contrário de outros povos, que nomeavam reis e líderes de acordo com seus interesses políticos e militares, os israelitas deveriam reconhecer um único rei: Deus. Ele deveria governar sobre todos os aspetos da vida da nação.
Foi por isso que, durante muitos anos, os israelitas não tiveram um rei sobre eles. Quando era necessário, Deus levantava líderes, conhecidos como juízes, para unir o povo, mas o verdadeiro líder era Deus. Quando o povo pediu um rei, Deus lhes concedeu o pedido mas os reis ainda tinham o dever de reconhecer a Deus como o Rei supremo (Deuteronômio 17:18-20).
O Estado e a religião estavam fortemente unidos em Israel, com o objetivo de colocar Deus no centro de tudo. Se todos os israelitas tivessem seus corações voltados para Deus, teria funcionado muito bem. Infelizmente, o pecado estragou tudo.
O Antigo Testamento nos mostra como o poder político e o poder religioso se corromperam quando as pessoas se afastaram de Deus. Sacerdotes que abusavam do poder, cultos pagãos dentro do templo de Deus, perseguição aos profetas verdadeiros… muitas coisas terríveis aconteceram quando as instituições seculares e religiosas ficaram afetadas pelo pecado.
Por outro lado, em algumas ocasiões Deus usou reis e líderes políticos para começar avivamentos entre os israelitas. Debaixo da orientação de Deus, alguns líderes foram grandes exemplos de fé e serviram como inspiração, levando muitos de volta para os caminhos de Deus. Mesmo assim, nenhum esforço político podia garantir que o coração das pessoas mudasse e, mesmo nos maiores avivamentos, práticas erradas continuaram a acontecer no país.
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Quando olhamos para a Bíblia e para a História em geral, vemos que, com ou sem separação entre a Igreja e o Estado, somente Deus tem o poder para transformar vidas. Não devemos colocar nossa esperança no poder político mas sim no poder eterno de Deus.