Você pergunta: Estou estudando sobre o Êxodo e notei que a Bíblia afirma que os israelitas passaram 430 anos no Egito, conforme Êxodo 12:40. Porém, analisando a profecia sobre esse tempo de escravidão que está em Gênesis 15:13 e também uma menção feita em Atos 7:6, observamos que os autores citam o tempo de 400 anos. Qual é o tempo correto que os israelitas ficaram no deserto?
Caro leitor, quando olhamos essa questão de números citados na Bíblia é sempre importante avaliarmos a intenção do autor: é uma intenção técnica de demonstrar um tempo preciso ou a intenção é demonstrar um certo período de tempo arredondado (longo ou curto)? Vou explicar isso de forma detalhada abaixo.
(1) A profecia sobre a escravidão que o povo vindo de Abraão iria sofrer, está registrada em Gênesis 15:13, e foi feita por Deus a Abraão: “então, lhe foi dito: Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos” (Gênesis 15:13). A pergunta que fica aqui é: Deus tem a intenção aqui de demonstrar o tempo exato da escravidão que passariam ou demonstrar que seria um longo período de tempo? Vamos analisar com maiores detalhes o contexto mais amplo para acharmos essa resposta.
(2) Mais à frente, já na época de Moisés, quando de fato se finaliza esse tempo de escravidão, Moisés escreve: “Ora, o tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de quatrocentos e trinta anos” (Êxodo 12:40). Aqui, novamente, perguntamos ao texto se a ideia do autor é demonstrar precisão numérica ou um tempo longo? Diante dos dois números diferentes citados alguns já pensaram que poderia ter havido aqui um erro de copista, mas veja esta outra citação feita no novo testamento: “E falou Deus que a sua descendência seria peregrina em terra estrangeira, onde seriam escravizados e maltratados por quatrocentos anos” (Atos 7:6). Aqui, evidentemente, Estevão está se referindo a profecia feita a Abraão. Mas existe ainda um outro texto curioso: “E digo isto: uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa” (Gálatas 3:17). Aqui Paulo, aparentemente, está considerando os 430 anos citados por Moisés, logo, seria difícil um erro de copista ser copiado novamente no Novo testamento e citado como certo. Então, a ideia de um erro de copista não é correta.
(3) Sendo assim, temos as seguintes conclusões sobre os 400 e os 430 anos:
a) O tempo de 400 anos é um arredondamento. É uma forma muito usada de citar um período de tempo, nesse caso, bem longo. A ideia não era trazer precisão de dias, meses ou de anos, mas mostrar o acontecimento marcante que iria ocorrer com o povo. É por isso que na profecia feita a Abraão ocorre esse arredondamento de tempo feito por Deus. Não era necessário que Deus fosse preciso na profecia a Abraão. Ele queria comunicar o longo período de escravidão futura do povo, que chegaria na casa dos quatrocentos anos.
b) Já o tempo de 430 anos tem o objetivo real de mostrar o tempo total que ficaram no Egito. Você pode observar que Moisés faz essa observação justamente no tempo em que o povo foi liberto da escravidão (O capítulo 12 de Êxodo conta exatamente sobre essa libertação), o que mostra que naquele texto a ideia é justamente informar o leitor (com maior precisão) o tempo total que ficaram no Egito como escravos, nesse caso uma precisão de anos. Mas observe que Moisés não usa uma precisão de meses e dias. Ele se satisfaz em narrar a precisão de anos.
c) Sendo assim, não temos contradição nesses dois números, o que temos são intenções diferentes em cada narrativa, pois o objetivo de cada citação era focar em uma realidade sobre esse período de tempo em que o povo seria escravo no Egito. Deus queria mostrar a Abraão que seria um tempo longo, na casa dos 400 anos. Moisés queria informar os leitores que esse tempo longo foi de precisamente 430 anos, totalmente em harmonia com o que Deus disse a Abraão.