Você Pergunta: Gostaria de compreender uma aparente contradição que vejo na Bíblia: Em Gênesis 46:27 a Bíblia afirma que as pessoas que desceram ao Egito quando José era governador foram setenta. Mas em Atos 7:14, na narrativa do discurso de Estevão perante o Sinédrio, afirma-se que foram setenta e cinco pessoas. Pode me ajudar a entender essa aparente contradição? Seria algum erro de copistas?
Caro leitor, pequenos erros de copistas (não tão importantes) são encontrados em alguns textos bíblicos, principalmente quando da contagem de certos números, que às vezes foram trocados sem querer enquanto se faziam cópias dos textos. Temos, de fato, alguns casos desse tipo, porém, esse caso que você mencionou não é um erro de copista. Eu vou te explicar como entender essa questão:
(1) O capítulo 46 de Gênesis narra a ida de Jacó ao Egito para se encontrar com José, relembra as promessas de Deus e trata sobre a descendência de Abraão que estava descendo para lá. O trecho mencionado nesse estudo está em Gênesis 46:26-27: “Todos os que vieram com Jacó para o Egito, que eram os seus descendentes, fora as mulheres dos filhos de Jacó, todos eram sessenta e seis pessoas; e os filhos de José, que lhe nasceram no Egito, eram dois. Todas as pessoas da casa de Jacó, que vieram para o Egito, foram setenta”.
(2) Nesse texto citado temos duas possibilidades levantadas por estudiosos: na primeira, a escrita desse texto, ao usar o número setenta, teria tido a intenção de comunicar completude, plenitude, coisas que são comunicadas pelo uso do número 7 (e seus múltiplos) na Bíblia, e não o número exato de pessoas. Êxodo 1:5 e Deuteronômio 10:22 também repetem essa numeração de setenta pessoas. Mas essa é uma hipótese menos aceita, já que o texto parece indicar claramente uma contagem. Na segunda hipótese, temos o pensamento de que nesse texto (de Gênesis) não foram incluídos alguns descendentes de Manassés, nem os descendentes de Efraim (filhos de José) e que isso justificaria o número de 70 pessoas aqui, enquanto temos 75 pessoas mencionadas em Atos 7:14.
(3) Já no texto de Atos 7:14, encontramos a seguinte menção: “Então, José mandou chamar a Jacó, seu pai, e toda a sua parentela, isto é, setenta e cinco pessoas” (Atos 7:14). Nesse texto de Atos, Estevão usa como base a Septuaginta, que era a tradução grega do Antigo Testamento, que apresenta uma outra forma de contar esses descendentes, querendo realmente demonstrar o número certo total de pessoas israelitas que subiram ao Egito naquele momento, somando-as com a família de José que já estava lá. Sendo assim, ao que tudo indica, nesse número de 75 pessoas estão inclusos todos os descendentes de Jacó, contando José, seus filhos Manassés e Efraim (Gênesis 46:20) e também alguns filhos de Manassés e Efraim, o que daria 75 pessoas no total. Isso explicaria essa diferença.
(4) Para mais detalhes da genealogia de Manassés e Efraim, pode-se consultar 1 Crônicas 7:14-27. Dessa forma, não temos nessa análise uma contradição na Bíblia, mas sim uma forma de contagem diferente, com focos diferentes, que trouxe uma diferença nessas duas numerações, porém, totalmente compreensível conforme demonstramos com as informações acima. O fato é que essas duas formas de contar as pessoas não altera em nada os significados profundos daquilo que Deus fez ao Seu povo, com mão forte no Egito, antes, reforça o cuidado de Deus com a família que iria se transformar no Seu povo escolhido!